quarta-feira, 12 de março de 2014

  Eu não tenho uma doença fatal ou sofri um grande trauma na minha vida. Não fui abandonada, mal cuidada ou mal nutrida. Nascinuma família perfeita, de grande prestígio e que sempre me amou. Tive as melhores oportunidades na vida - ótima educação, muitas viagens nacionais e internacionais, conheço muito mais que minha língua materna e conheci muita gente interessante. Tenho um bom dinheiro guardado. Tenho ótimos exemplos de vida, pessoas muito próximas de mim. Tenho acesso à cultura, amo meus cachorros e me dou bem com meu irmão. Tenho um namorado lindo que me ama e, mesmo quando não sabe como, esta sempre querendo me ajudar. Realmente não tenho razão para reclamar. Então qual o motivo de não me sentir bem? De não estar satisfeita com minha vida?
      Não consigo ser consistente em nada, desisto de tudo que começo e nada me encanta. Não consigo me aproximar direito das pessoas, nenhuma amizade dura. Parece fútil minha reclamação, não? Como alguém pode ser infeliz com tudo que tenho? Tanta coisa podia ter dado errado, mas não deu. A única coisa errada na minha vida sou eu, e a culpa disso é toda minha. Então como reverter a situação? O que é essa força dentro de mim que está sempre me sabotando? Que, ao mesmo tempo que mostra como posso ser superior em relação aos outros em certas coisas e, ao mesmo tempo, grita como, na verdade, não mereço coisas boas na minha vida. Que me faz ter ambições e desejos enquanto também me sinto totalmente incapaz. Que me afasta dos outros mas me faz triste quando isso acontece.
  Alguns que me conhecem diriam que é bobagem de menina mimada que não sabe o que é passar necessidade. Outros diriam que é por causa da bipolaridade. Eu sinceramente não sei. Concordo com as duas razões. Acho que uma agrava a outra, constantemente.
  Não Consigo definir o que quero para minha vida, mas considero tudo que passa pela minha cabeça. Por algum motivo não tenho força de vontade. Não concretizo nada. Tenho muito medo e muito tédio. Mas também tenho muita inveja das pessoas que sabem o que querem e, pelo menos aparentemente, são tão felizes. Tenho mil interesses e nenhum realmente importante pra mim. Sinto da mesma maneira vontade de conhecer a vida e vontade de conhecer a morte. Não mantenho rotina, mas vivo num marasmo sufocante. Não suporto as pessoas, mas tenho carinho e expectativas pelos meus relacionamentos. Sei que estou perdendo tempo precioso, mas não sei o que fazer com ele.
  Quando penso que os remédios para a bipolaridade não funcionam, não sei se são eles o problema, se é o médico ou se, quem sabe, essa seja a minha real personalidade, e a doença não exista. Sou minha maior crítica, mas minha pior motivação.
  Assim sendo, descobri que ter consciência de que há algo de errado pode ser um passo na direção certa, mas a estrada é longa demais para que esse passo faça alguma diferença. Saber como resolver, isso sim é meio caminho andado. E eu, agora, me sinto completamente perdida.